Nossos Blogues de Ciências Resistem
Acredita-se que o surgimento de novas mídias, entre outros fatores, tenha contribuído bastante para o decaimento no volume de postagens dos blogues científicos nacionais, principalmente a partir de 2014. Embora essas mídias não sejam incompatíveis (blogueiros de ciência normalmente usam o Twitter e o Facebook para chamar a atenção para o seu blogue), certamente envolvem maior gasto de tempo pelo divulgador, a ponto de aumentar o período de inatividade do blogue ou até mesmo levar à extinção do mesmo. O fato é que os blogues científicos, por suas características, ainda possuem grande potencial para a educação em ciências por meio da divulgação científica.
Com aproximadamente 20 anos de existência, os blogues proliferaram a partir do início dos anos 2000 e se estabeleceram em um curto espaço de tempo, percorrendo uma trajetória marcada por aportes tecnológicos que revolucionaram a forma de comunicação virtual, com os conteúdos disseminados na rede passando a ser gerados pelos próprios usuários.
No que se refere aos blogues de ciências, verificou-se um crescimento majoritário a partir de 2004, sendo o ano de 2006 marcante pela criação do portal ScienceBlogs no cenário internacional. O Portal Lablogatórios, criado em 2008 pelos biólogos Carlos Hotta e Átila Iamarino, aparece como o primeiro condomínio de blogues voltado à divulgação da ciência no Brasil . Em 2009, altera sua denominação – muda de Lablogatórios (ou Lablogs) para Science Blogs Brasil e passa a fazer parte do Anel de Blogs Científicos (ABC).
De uns tempos para cá, tem-se falado muito numa crise na produtividade dos nossos blogueiros de ciências, mas pouco se tem pesquisado sobre este assunto. A pesquisadora da USP Sibele Fausto e seus colaboradores publicaram este ano um levantamento do status da blogosfera científica brasileira em que discutem aspectos relevantes sobre a situação dos blogues nacionais de ciências. Segundo os autores da pesquisa, a queda de atividade na blogosfera científica nacional não é certa, porém é plausível, dada a competição por tempo e o esforço com as novas mídias sociais (Twitter, Facebook e YouTube).
De acordo com uma busca sistemática realizada no site Periódico, verificou-se que, numa amostra de 90 blogues científicos representativos da blogosfera nacional, apenas 33 tinham publicado postagens no primeiro semestre de 2017. O site Periódico é um agregador de conteúdo da comunidade de blogues de divulgação científica do país. O site é alimentado a partir dos feeds de cada blogues agregado. O objetivo do Periódico é agregar links para os diversos posts produzidos pela comunidade brasileira de blogues de divulgação científica, arquivá-los e espalhá-los via redes sociais.
Fonte: Periódico
Acredita-se que o surgimento de novas mídias tenha contribuído bastante para o decaimento no volume de postagens dos blogues nacionais, principalmente a partir de 2014. Desde então, muitos divulgadores de ciência provavelmente passaram a usar o Twitter como plataforma para links para notícias de ciência e/ou começaram a usar o Facebook também como mídia para divulgação científica. O surgimento dos vlogs (videoblogs) de ciência e podcasts de divulgação científica também podem ser apontados como prováveis causas desta diminuição.
Ou seja, embora essas mídias não sejam incompatíveis (blogueiros de ciência normalmente usam o Twitter e o Facebook para chamar a atenção para o seu blogue), certamente envolvem maior gasto de tempo pelo divulgador, a ponto de aumentar o período de inatividade do blogue ou até mesmo levar à extinção do mesmo.
Um outro fator a ser considerado é a de que a geração inicial que fundou os blogues de ciência de forma entusiástica amadureceu (muitos eram estudantes), de forma que agora se vê envolvida com demandas profissionais e familiares. Aparentemente, não surgiu uma nova geração de blogueiros de ciência com o mesmo entusiasmo, dado que a mesma está mais envolvida com as novas ferramentas sociais, e o blogue, por seu caráter de escrita intensiva, é muitas vezes encarado como uma mídia trabalhosa e rotineira.
Um fato interessante em relação aos blogues é que mesmo quando são considerados inativos ou extintos, o seu conteúdo continua disponível para que novos leitores acrescentem comentários e também para o que seu autor possa retomar as publicações a qualquer tempo.
Segundo os resultados da Enquete Nacional de Percepção Pública da Ciência e Tecnologia de 2015, 14% dos entrevistados declararam usar blogues como fonte para acessar informações sobre ciência e tecnologia na internet. Aos poucos estamos percebendo que a interação entre a ciência e os variados tipos de público hoje em dia é uma exigência social, e não somente um filantrópico desejo de democratizar o conhecimento, nem somente deve-se ao efeito da importância da tecnologia em nossas vidas.
O fato é que os blogues científicos, por suas características, ainda possuem grande potencial para a educação em ciências por meio da divulgação científica. Mesmo sabendo que, no Brasil, estes blogues ainda não atingiram a legitimidade que merecem no meio acadêmico e que uma série de fatores dificultam a sua percepção como recursos confiáveis pelo público em geral. Contudo, a permanência dessas ferramentas digitais no ambiente online, expõe a necessidade de uma ponte conectando os pesquisadores e suas pesquisas a outras partes da sociedade, facilitando assim a transferência da produção científica em nosso meio.
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