O Que Aconteceu Com os Casos de Microcefalia em 2016?

A discrepante diminuição nos casos de microcefalia causados pelo Zika vírus no nordeste brasileiro em 2016 intrigou a comunidade científica que esperava por uma avalanche de casos similar aos de 2015. Um novo estudo feito sobre os dados de 2016 trouxe revelações surpreendentes. Apesar das teorias apresentadas pelo especialistas a pergunta ainda persiste:por que houve menos casos de microcefalia causados pelo Zika vírus no ano passado? 

Desde os primeiros estágios do surto de Zika nas Américas, foram levantadas questões sobre o elevado número de casos de microcefalia no nordeste do Brasil. Depois de tantos nascimentos registrados no nordeste brasileiro nos últimos três meses de 2015, o país - e outros lugares por onde o vírus se espalhou - se prepararam para uma avalanche similar de casos em 2016. Porém, isso não se concretizou, ao menos não no mesmo nível.
Uma matéria assinada por Hellen Branswell, uma jornalista que cobre notícias de doenças infecciosas e saúde pública para a STAT e reproduzida pela Scientific American Brasil esta semana levantou a seguinte questão: por que houve menos casos de microcefalia causados pelo Zika vírus no ano passado? Um novo estudo sobre os dados de 2016 trouxe algumas revelações surpreendentes.
Pesquisadores do Ministério da Saúde do Brasil, da Fundação Oswaldo Cruz, da Organização Panamericana de Saúde e da Organização Mundial de Saúde (OMS) publicaram uma carta no New England Journal of Medicine oferecendo uma teoria para explicar os casos de microcefalia previstos e que não ocorreram no nordeste brasileiro após a segunda onda de infecção do Zika, no início de 2016.
Na carta, eles usaram informações de dois bancos de dados que registram casos de microcefalia e síndrome de Guillain-Barré (GBS, na sigla em inglês), as quais estão disponíveis em um apêndice suplementar da publicação.
Os autores sugerem que a primeira onda de Zika da região foi, na verdade, a única até hoje. Segundo essa teoria, alguma coisa capaz de causar doenças semelhantes, como o vírus da chikungunya, provavelmente foi o responsável pelo alto nível de febre e erupções cutâneas que o Brasil registrou em 2016.
Em 2015, um grande pico nos casos de GBS foi seguido por uma onda de recém-nascidos com microcefalia 23 semanas depois. Contudo, o mesmo não aconteceu com um pico correspondente no início de 2016. Infecção por Zika pode desencadear GBS, uma paralisia progressiva da qual a maioria das pessoas se recupera. Essa infecção durante a gravidez pode atacar o feto, levando à microcefalia e outros problemas neurológicos congênitos. A infecção por chikungunya pode causar GBS, mas a mesma infecção durante a gravidez não causa microcefalia, até onde se sabe.
Segundo Christopher Dye, autor sênior e epidemiologista da OMS, “os casos no primeiro ano, em 2015, eram realmente de Zika. E é por conta disso que vimos microcefalia em 2015. Já em 2016, foi predominantemente chikungunya, não Zika, por isso vimos Guillain-Barré, mas não microcefalia”.
Baseando-se nos registros de febre e erupções cutâneas no nordeste no começo de 2016, esperava-se que cerca de mil bebês nasceriam com microcefalia causada por Zika a partir do final do verão. Ao invés disso, cerca de 80 foram registrados na região, conforme Dye nos esclarece.
De acordo com o Dr. David Heymann, que foi presidente do comitê de emergência de Zika da Organização Mundial da Saúde (o qual já foi dissolvido) disse que o comitê analisou problemas como o aglomeramento populacional nas cidades do nordeste brasileiro e o estado nutricional das pessoas de lá, entre outros fatores, em busca de um co-fator que explicasse o agravamento do impacto do vírus nesta população. Entretanto, nenhum co-fator claramente óbvio foi encontrado. Além disso, alguns outros - como o uso local de inseticidas - foram desconsiderados, disse Dye.
A carta dos autores não pode excluir a possibilidade de um co-fator, disse Dye. Mas o fato de que houve poucos casos de microcefalia no ano seguinte significa que esse co-fator estaria faltando em 2016 - o que o torna ainda mais improvável.
Os autores também observaram uma terceira possibilidade: que as mulheres da região viram o possível efeito de uma infecção por Zika durante a gravidez e muitas podem ter evitado ficar grávidas ou interrompido gravidezes. Mas se as maternidades dos hospitais da região tivessem se esvaziado em 2016, o mundo já teria ouvido falar nisso.
Se a teoria de que o Zika passou pelo nordeste em apenas uma onda estiver certa, isso provavelmente significa que tantas pessoas foram infectadas em 2015 que poucas ainda estavam vulneráveis ao vírus em 2016. De certa forma, pode ser um bom sinal. Isso pode sugerir que os surtos de Zika são rápidos.
Mas isso não significa que o vírus já terminou. O mais provável, disse Dye, é que o Zika vai retornar após os nascimentos terem criado grupos de pessoas que não possuem imunidade ao vírus, voltando, talvez, quando as pessoas não estiverem esperando.
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