Hidra, Eternamente Jovem e Potencialmente Imortal

Desde a descoberta de suas potencialidades, a hidra tem suscitado pesquisas visando a descoberta de um mecanismo de se vencer o envelhecimento. Este pólipo, pertencente à classe dos cnidários, possui as propriedades de regenerar partes de seu corpo, fazer clones de si mesmo e  de nunca envelhecer. Recentemente, a ciência descobriu que existe um gene nas células-tronco da hidra que permite todas essas propriedades, cujas versões aparecem mais comumente em pessoas que vivem acima dos 100 anos. A hidra é eternamente jovem e potencialmente imortal.

Em 1736, Abraham Trembley encontrou um estranho organismo em uma amostra de água proveniente de uma lagoa. Tratava-se de um diminuto monstro verde com múltiplas extremidades que variavam em número de indivíduo para outro. Esta irregularidade chamou a atenção de Trembley que ficou em dúvida se o organismo em questão era um vegetal ou um animal. Para solucionar o impasse, cortou uma dessas criaturas ao meio e constatou, estupefacto, que cada metade regenerou um novo indivíduo, uma propriedade bem típica das plantas. Porém, esses resultados não o convenceram. Como classificar como vegetal um organismo que apresentava movimentos espontâneos e erráticos e que também se alimentava?
Foi um sábio francês chamado René Ferchault de Réamur que pôs um ponto final às dúvidas de Trembley. Graças a uma fluida e detalhada correspondência com o suíço, Réamur pode provar e reafirmar que o organismo em questão se tratava de um animal ( mais precisamente um pólipo, uma das formas dos cnidários; a outra é a medusa). Em uma de suas cartas, Trembley mencionou um dos seus exemplares como Hydre, em referência ao mito grego, e sete anos mais tarde, Lineu classificou estes pólipos próprios de águas doces sob o gênero Hydra. Antes dos experimentos de Trembley e da taxonomia, a hidra já havia sido descoberta por outro grande cientista Antonie van Leeuwenhoek, assim como por um pesquisador inglês anônimo. Entretanto, os experimentos de Trembley, fundamentados em uma pesquisa reiterada e minuciosa, em uma observação crítica e aguda, além de uma certa cautela com os objetivos e as conclusões, estabeleceu as bases da metodologia experimental na biologia.
No final do século 20, o professor Daniel Martinez relatou que a espécie conhecida como Hydra vulgaris não envelhecia. Depois de estudar esta espécie por quatro anos constatou que elas estavam com a mesma aparência dos primeiros dias do estudo; suas células não deterioraram. A hidra é eternamente jovem e potencialmente imortal. Seu cobiçado poder está em sua células-tronco. Graças a elas, as hidra se regeneram e se reproduzem assexuadamente e podem recuperar pardes danificadas e criar pequenos clones de si mesmas, conforme observou Trembley. recentemente, Thomas C. G. Bosch e seus colaboradores descobriu uma proteína nas células-tronco das hidras a qual parece ser a chave do envelhecimento. Bosch e sua equipe concluiu que, ao se eliminar o gene FoxO, a hidra envelhece, embora ainda não esteja claro como esse mecanismo funciona. Os seres humanos possuem versões desse gene e algumas são mais comuns em pessoas que vivem mais de cem anos. Seriam os genes FoxO a fonte universal da eterna juventude?
Na mitologia grega, a Hidra de Lerna era um monstro do inferno com a forma de uma serpente com várias cabeças. No segundo de seus doze trabalhos, Hércules teve que matá-la (ver figura). No foi uma tarefa fácil, pois cada vez que cortava uma cabeça, surgiam duas novas no lugar. Para evitar que se regenerassem, seu sobrinho Iolau queimava a ferida aberta no pescoço do monstro. Assim, após muita luta, eles conseguiram acabar com a besta policéfala. Desde então, a Hidra de Lerna tem inspirado os cientistas tanto por seu aspecto como por seus poderes.
A hidra tem superado sua predecessora fictícia. Atualmente, não há nenhum Hércules que lute contra seus poderes, a não ser o esforço de muitos cientistas que tentam desvendá-los e aplicá-los em outras áreas do conhecimento humano. Seus estudos têm abertos novos caminhos na biologia e seus segredos podem, em um futuro remoto, nos fazermos imunes ao passar do tempo.



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