A Primeira Mulher a Ganhar um Prêmio Nobel

Marie Curie (1867-1934) foi a primeira mulher cientista a ganhar um Prêmio Nobel e a única pessoa a ser laureada com dois nobéis dentro da sua categoria profissional. Apesar da fama e da reputação conquistadas, Curie ainda enfrentava o preconceito por ser mulher e se dedicar à ciência. Em 1911, mesmo ano em que receberia seu segundo Nobel, a Academia Francesa de Ciências não a elegeu como membro por dois votos.  Em 1926 veio ao Brasil e causou um intenso reboliço na impressa da época que deu ampla cobertura á sua visita.


É claro que não estamos nos referindo á edição 2016 do prêmio. Lamentavelmente, este ano nenhuma mulher foi agraciada com um Nobel, em nenhuma das 11 categorias. No caso das categorias científicas, desde 1901 que 97% dos ganhadores do Nobel de ciência são homens. Apenas 18 mulheres foram laureadas com o prêmio desde a sua criação. E se hoje há quem denuncie que existe preconceito contra as mulheres nos meios acadêmicos, imagina como era no final do século XIX, época em que viveu Marie Curie, a primeira mulher a ganhar um prêmio Nobel. E não foi só isso: ela foi a primeira cientista a ganhar dois nobéis dentro da sua área de atuação profissional ( o químico Linus Pauling também ganhou dois, só que um era o da Paz, que não tinha nada a ver com o seu trabalho de pesquisador)
Nascida Maria Sklodowska em Varsóvia, na Polônia, em 1867, Marie Curie era a filha caçula de um casal de professores. Para se formar em física e química, ela teve de ir estudar em Paris. Graduou-se na Sorbonne e, quando tentou retornar a seu país de origem para trabalhar em seu campo de estudo, foi recusada pela Universidade de Cracóvia pelo simples fato de ser mulher. Diante disso, ela estabeleceu-se definitivamente na França e, em 1895, casou-se com Pierre Curie, também físico. Juntos eles iniciaram as investigações sobre a radioatividade (termo que ela inventou), recém-descoberta por Henri Becquerel em 1896. O francês havia descoberto que minérios de urânio emitiam uma estranha forma de radiação, e o casal Curie contribuiu imensamente para a compreensão do fenômeno. Entre outras coisas, eles descobriram que a radiação era emitida pelos próprios átomos individualmente, e não por alguma interação molecular. 
Pelo trabalho com a radioatividade, o trio (Becquerel, Marie e Pierre Curie) recebeu o Prêmio Nobel em Física em 1903, conforme nos informa a matéria que saiu na revista Superinteressante sobre 29 gênios da história ( edição 304a, maio de 2012)
Ao prosseguir na pesquisa com os minérios de urânio, Marie percebeu (desta vez sem a participação de Becquerel ou de seu marido) que, se seus cálculos estivessem corretos, deveria haver outro elemento ali com capacidade radioativa ainda maior. 
Essa foi a trilha que levou à descoberta dos elementos polônio (batizado em homenagem à sua terra natal) e rádio, ambos descobertos em 1898. Os dois achados seriam a razão que levou a Academia Real de Ciências da Suécia a conceder a ela um segundo Nobel, em Química, em 1911. 
Marie Curie foi também a a primeira mulher a dar aulas na Universidade de Sorbonne; fundara e coordenava o Instituto do Rádio, em Paris, que fazia pesquisas para tratamento do câncer. Madame Curie, como era chamada na época, também ganhou a simpatia mundial ao desenvolver aparelhos de raios-X, equipar veículos com eles, treinar enfermeiros para operá-los e levá-los aos campos de batalha da primeira guerra mundial, para atendimento dos soldados feridos em combate. Era uma cientista em plena atividade, e trabalhava pela divulgação da ciência e do conhecimento científico.
Apesar da fama e da reputação conquistadas, Curie ainda enfrentava o preconceito. No mesmo ano em que receberia seu segundo Nobel, a Academia Francesa de Ciências não a elegeu como membro por dois votos. 
A vida dedicada à ciência não a impediu de formar família. Marie teve duas filhas com Pierre Curie, Irène (1897) e Ève (1904), e contratou governantas polonesas para ensinar às filhas sua língua natal.

Em 1926, Madame Curie veio ao Brasil. Marie Curie passou 45 dias no Brasil, acompanhada da filha mais velha, Irène. Veio a convite do Instituto Franco-Brasileiro de Alta Cultura, hoje extinto, uma instituição voltada à divulgação científica mantida pela embaixada francesa no Rio de Janeiro. O Instituto organizou na então capital federal uma série de conferências sobre a radioatividade na Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro, tendo Madame Curie como principal oradora. As conferências foram realizadas na escola, localizada no Largo de São Francisco de Paula, no centro do Rio. A primeira emissora de rádio do país, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, fundada quatro anos antes por Roquette Pinto, chegou a transmitir as conferências. Os jornais deram destaque à presença da cientista e fizeram muitas reportagens para falar de sua vida, seu trabalho e sua agenda no Brasil. 
Naquela época, os perigos da radioatividade eram desconhecidos, então Marie não tomava nenhuma precaução em seus estudos. Por causa disso, até seu livro de receitas se tornou altamente radioativo e até hoje só pode ser manipulado com roupas protetoras.
Pierre Curie morreu jovem, em 1906, vítima de um atropelamento. Marie brilhou sozinha durante praticamente toda a carreira, mas a solidão a atormentou durante longos anos. E sua pesquisa com radioatividade, ao fim e ao cabo, cobrou seu preço. Ela morreu de anemia aplástica, causada pela manipulação constante de material radioativo, em 1934. Mas deixou um exemplo que brilha até hoje no panteão dos heróis científicos da humanidade.
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