Quem São os Verdadeiros Macacos?

A campanha Somos Todos Macacos lançada recentemente por celebridades serviu, entre outras coisas, para acirrar as discussões sobre o racismo e reacender velhas perguntas como "descendemos ou não dos macacos?" Mas, afinal, o que é um macaco?

Com tanta polêmica gerada na última semana com o lançamento da campanha Somos Todos Macacos, resolvi pesquisar um pouquinho sobre o tema e cheguei a conclusão que ele não é assim de tão fácil compreensão. Como não sou nenhum especialista em biologia evolutiva, fui atrás das fontes (confiáveis) na tentativa de buscar as respostas para solucionar o impasse: afinal, somos todos macacos? Mas,  o que é um macaco?

Consultei duas páginas especializadas em evolução na internet, o Evolucionismo.org e o Biologia Evolutiva. No Evolucionismo, tomei como base a postagem de Rodrigo Véras, datada de 27 de março de 2013, cujo título é "Afinal, viemos ou não dos macacos? Três respostas possíveis". No seu ensaio, Rodrigo explica cada uma das respostas possíveis para esta questão e nos fornece bastante informações sobre vários aspectos relacionados com a evolução humana. De acordo com o texto de Véras, "Os macacos, como nós seres humanos, são primatas simiiformes (antropoides) que se originaram nos últimos 40 ou 50 milhões de anos e portanto são nossos parentes. Então, da mesma forma que não somos descendentes de nossos irmãos, mas compartilhamos com eles ancestrais comuns (nossos pais) e não somos descendentes de nossos primos irmãs, como os quais compartilhamos um par de avós, nós e dos diversos macacos somos por assim dizer primos de uma perspectiva evolutiva. No caso nossos parentes vivos mais próximos são as espécies do gênero Pan, chimpanzés e bonobos com as quais compartilhamos um ancestral comum como o ancestral comum (uma população ancestral, na verdade) de ambas que deve ter vivido por volta de 5 ou 7 milhões de anos atrás." Neste ponto do texto, Rodrigo Véras está comentando uma das respostas possíveis que é "Não! Não descendemos dos macacos". E acrescenta: "Esta resposta negativa é importante por que refuta a ideia simplista de que seríamos descendentes diretos de alguma espécie de macaco moderna e que os demais macacos não teriam evoluído, o que é falso."
O interessante é quando Véras analisa a segunda resposta possível: "Sim!". Diz ele: "Nós, seres humanos, somos descendentes sim de macacos. Embora realmente não descendamos de macacos modernos, os nossos ancestrais comuns com estes macacos eram, sim, tipos de macacos. Esta resposta é importante por que nos aproxima da questão primordial da evolução humana. Nós somos animais. Não somos criações em separado e sem relações de parentesco como os demais seres vivos. Somos produtos da evolução e, portanto, somos formas descendentes de espécies ancestrais que em muitos aspectos tinham várias características que consideramos primitivas (no sentido de serem a forma mais antiga) e que não mais estão presentes em nossa espécie que possui versões mais derivadas, ou seja, originadas das versões mais antigas, de muitas destas características."
"Ao nos compararmos aos demais macacos, especialmente as espécies hominoideas mais próximas a nos, como chimpanzés, gorilas, e orangotangos, notamos que divergimos deles em vários aspectos, como em relação a nossa cobertura de pelos, a forma de nossos crânios e de nossas proporções craniomandibulares, também com relação a nossa postura e proporção entre os membros, além de sermos bem diferentes com relação aos detalhes de nossas cinturas escapulares e pélvicas e de nossas mãos. Isso sem esquecer do nosso comportamento e de nossas habilidades cognitivas. Porém, cada uma dessas espécies é também bem diferente uma da outra, ainda que compartilhem algumas destas características superficiais que fazem parte do esteriótipo que atribuímos aos macacos e que nós não compartilhamos, pelo menos, não de maneira tão intensa. Contudo, por meio de um exame mais detalhado, especialmente de nossos genes e genomas, notamos que as nossas similaridades com os chimpanzés (Pan troglodytes) e bonobos (Pan paniscus), e deles conosco, são maiores do que as nossas similaridades com qualquer outro macaco."
E chegamos a terceira resposta possível para a pergunta viemos ou não dos macacos: " Sua premissa está errada! Nós somos 'macacos'! Neste particular, cabe o comentário de Véras:  "Caso queiramos que este termo seja mais preciso e que faça mais sentido do ponto de vista evolutivo, devemos admitir que somos sim um tipo de macaco, mesmo que tenhamos algumas características externas bem derivadas em relação as demais espécies viventes, mas que, em parte, são evidentes por que nós mesmos as investigamos e julgamos, e, em outra parte, por que vários de nossos parentes mais próximos dos últimos 5 ou 6 milhões de anos, simplesmente, não existem mais. Caso eles ainda existissem (e é o que nos damos conta quando olhamos para os fósseis), perceberíamos como os 'macacos' (primatas simiiformes, nos incluindo) são, na verdade, bem mais variados que nosso esteriótipo desenvolvido por vivermos em certo período específico em que somos os únicos membros na subtribo hominina (e mesmo do gênero Homo) vivos."
Na página do Biologia Evolutiva encontrei explicações filogenéticas para o termo "macaco" numa postagem mais recente do blog intitulada "Afinal, o que é um macaco?". Diz o autor da postagem, Gerardo Furtado: " Há, mesmo entre os cientistas, um uso mais restrito e um uso mais amplo do termo macaco. O primeiro uso, o mais restrito de todos, é chamar de macaco apenas os primatas do Gênero Macaca, como o macaco Rhesus ou o macaco de Gibraltar. Um outro uso, menos restrito, é chamar de macaco todos os Cercopitecídeos, ou seja, os primatas catarrinos excluindo-se os hominídeos. O terceiro uso, mais amplo ainda, é chamar de macaco os Cercopitecídeos e os platirrinos (os macacos do novo mundo). E, finalmente, uma quarta e mais ampla ainda possibilidade é chamar de macaco todo e qualquer primata antropoide, com exceção do ser humano."
Para ajudar a desfazer o nó que as explicações acima deram no nosso cérebro, termino reproduzindo um trecho bastante elucidativo da postagem de Gerardo Furtado: "O que estão fazendo é usar o termo “macaco” para designar um grupo monofilético: macacos seriam todos os antropoides e, caso o Rei Julien de Madagascar seja considerado macaco também, macacos seriam todos os primatas. Bem, isso é uma coisa legal, e que eu defendo: o uso de grupos monofiléticos. Mas há dois problemas. Primeiramente, já existe um nome para definir o grupo monofilético dos primatas, e você acabou de lê-lo: primatas. E, em segundo lugar, convém tomar cuidado com a transformação de grupos parafiléticos em monofiléticos. Quem já conhece bem a sistemática filogenética (se você não conhece, seja bem vindo!), sabe que as hashtags SomosTodosPeixes, SomosTodosAgnatos, SomosTodosEsponjas ou SomosTodosBactérias estão todas corretas e perfeitas, do ponto de vista biológico."

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