Biologia é Vida!..Simples Assim

Com um pouco de sensibilidade, os cientistas conseguem perceber que muitos de seus relatos científicos estão repletos de poesia. A beleza e a singeleza dos processos biológicos fascinam e, às vezes, ficam resumidos a gráficos, tabelas, diagramas, gravuras e formulação de teorias e hipóteses.

Certa vez escrevi nas páginas deste blog que o universo da biologia não se constitui apenas de ciência. Há muita poesia inserida nos relatos e fatos científicos. É só questão de se descobrir. Além do mais, o que se poderia esperar de uma ciência que estuda a vida? Muita beleza, muita simplicidade...enfim,  muita poesia.
Quando mencionei isso em 2010 estava me referindo à forma impressionante que uma determinada espécie de aranha procedia para colonizar uma ilha devastada por uma erupção vulcânica. O relato extraído do livro "Diversidade da Vida", de Edward O. Wilson é um belo exemplo de (com licença da palavra) biologia poética: "Os aracnólogos sabem que a maioria das espécies empreende 'viagens de balão' em algum ponto do seu ciclo de vida. A aranha se coloca na borda de uma folha ou em algum outro local exposto e lança um fio de seda das fiandeiras na extremidade posterior do abdômen. O fio acaba sendo colhido por uma corrente de ar e vai se esticando, puxado pelo vento, como a linha de uma pipa. A aranha vai tecendo mais e mais seda até que o fio exerce um forte puxão sobre o seu corpo. Ela então se solta da folha ou da relva e sai voando. Não apenas os filhotes minúsculos, mas também aranhas grandes, que por vezes atingem milhares de metros de altitude e viajam centenas de quilômetros antes de voltar ao chão para a começar uma vida nova. Ou então caem na água e morrem. As viajantes não têm controle algum sobre a sua descida."
Não é difícil para os amantes da biologia encontrar lirismo nos relatos científicos. Tem coisa mais singela do que saber que o coração de um rato e o de um elefante batem o mesmo número de vezes durante a vida? Por que isso acontece se um rato vive só um ano, enquanto um elefante chega aso 70 anos? A explicação para esse fato está na lei formulada em 1930 pelo biólogo suíço Max Kleiber a qual interliga a taxa de metabolismo de um ser vivo à sua massa. Segundo a lei de Kleiber, o metabolismo é importante na história de uma espécie; é ele quem determina , por exemplo, a frequência das batidas do coração ( e mesmo a necessidade de um coração), a expectativa de vida, a proporção entre a grossura do tronco de uma árvore e a área de sua folhas. Em resumo: a lei de Kleiber, também conhecida como lei do metabolismo, diz que  as necessidades metabólicas de um mamífero crescem na proporção do seu peso corporal elevado à potência de 0,74. Quer dizer,ela diminui com o peso.
Poético é saber que as árvores vão ajustando ao longo do tempo a grossura de seus troncos, o padrão de ramificação dos galhos, a área das folhas, o formato das sementes. Os animais vão ajustando o formato do corpo, o padrão da pelagem, o padrão de ramificação dos vasos sanguíneos, o tamanho dos pulmões, o número de glândulas sudoríparas e tantas outras coisas, de acordo com o compasso do relógio da evolução.
Nestes cinco anos de existência do blog Biorritmo já teve ocasião em que me emocionei ao constatar o quanto a biologia se aproxima da poesia. Ao preparar determinadas postagens para publicação no blog, eu parava e dizia para mim mesmo: nossa, quanta poesia a ciência traz para o nosso cotidiano e a gente só consegue enxergar dados, hipóteses, experimentos e ponderações! Isso me faz lembrar do poeta Manoel de Barros (1917-   ) que dizia: "Quando as aves falam com as pedras e as rãs com as águas - é de poesia que estão falando." E por falar de Manoel de Barros, encerro essa postagem com um dos seus muitos poemas belíssimos:


Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas
mais que a dos mísseis.
Tenho em mim
esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância
de ser feliz por isso.
Meu quintal
É maior do que o mundo.


Por José Antônio Dias, autor do blog Biorritmo

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