O Boi e o Aquecimento Global


Relatório indica que as emissões de gases efeito estufa da agropecuária cresceram 13% em dez anos. Flatulência e arroto dos animais liberam metano, um gás 25 vezes mais potente que o CO2


Não se deixe enganar pela aparência bucólica e pacata dos bovinos no pasto. Saiba que as emissões globais de gases do efeito estufa proveniente do setor agropecuário aumentaram 13% em dez anos. Apesar da agropecuária ter taxas inferiores na emissão de dióxido de carbono (CO2) quando comparada com outros setores produtivos, o setor é o grande responsável pela liberação de metano na atmosfera, um gás de efeito estufa com potencial de aquecimento 25 vezes maior que o CO2.
O metano responde por metade da emissões de todo o agronegócio, que sozinho é responsável por 25% das emissões globais de gases do efeito estufa. A fermentação entérica - a digestão de materiais orgânicos pelos ruminantes - é a maior fonte dessa emissão, que é liberada pela flatulência e arrotos de animais, como vacas, cabras e ovelhas.
Diferente do ser humano, os animais ruminantes têm quatro estômagos. Os dois primeiros são o rúmen e o retículo, onde o bolo alimentar se mistura continuamente. Dentro deles, há uma concentração enorme de microorganismos (bactérias, protozoários e fungos). Como todo esse processo de fermentação dos alimentos é anaeróbico (sem presença de ar), o gás metano é produzido e acaba sendo expelido pelo animal. Uma vaca pode liberar de 150 a 500 litros de gás por dia, dependendo de sua espécie e finalidade. “O problema não está na digestão das vacas. Mas, sim, no aumento exorbitante do rebanho mundial para suprir a demanda por alimentos e outros produtos”, afirma o professor alemão Michael Kreuzer, especialista em alimentação animal, do ETH Zürich - Instituto de Ciências Animais da Escola Politécnica de Zurique.
De acordo com o estudo feito pelo Worldwatch Institute., as emissões por fermentação entérica subiram 7,6% em todo o mundo entre 1990 e 2010, mas a variação regional foi alta. De 51,4% e 28,1%, respectivamente, na África e Ásia, enquanto as emissões na Europa e Oceania caíram 48,1% e 16,1%.
Essa redução significativa da Europa em emissões pode estar não só associada ao declínio de produção de carne bovina no continente entre 1990 e 2010, mas ao aumento do uso de grãos e óleos na alimentação do gado em vez de gramíneas.
O metano está entre os três gases mais comuns emitidos pelo setor, que incluem ainda o óxido nitroso e o CO2. Dentre eles, o óxido nitroso (N2O) é responsável por cerca de 36% das emissões de gases de efeito estufa agrícolas, segundo o estudo. Solos de ecossistemas tropicais são considerados maiores emissores naturais de óxido nitroso.
Encontrar soluções “naturais” para o problema é o ideal, já que essas alternativas dificilmente afetam a qualidade nutricional e o gosto do leite e da carne. As leis européias proíbem o uso de antibióticos para reprimir a formação de metano (prática largamente utilizada em muitos países) e a injeção de microorganismos modificados geneticamente no rúmen.

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