Saiba Mais Sobre a Testosterona


Associada à dominação, libido e agressividade, a testosterona influencia mais aspectos do comportamento dos homens - e também das mulheres - do que você imagina

A testosterona tem um papel importante na diferenciação dos sexos. Apesar de ser encontrada em ambos, a concentração do hormônio no sangue dos homens é até dez vezes maior do que no das mulheres. Essa diferença é suficiente para determinar as mudanças no corpo que, em última análise, tornam um garoto diferente de uma menina. Por volta da sexta semana de gestação, o feto masculino produz uma grande quantidade de testosterona. Entre outros efeitos, isso gera o desenvolvimento do pênis e dos testículos. Na adolescência, o hormônio chega aos seus níveis mais altos, desencadeando as alterações típicas da idade: o garoto engrossa a voz, experimenta um crescimento acelerado nos ossos e na massa muscular, desenvolve pêlos no corpo e sente o seu desejo sexual aumentar. A partir daí, a quantidade de testosterona no organismo diminui gradativamente até a velhice.
A manipulação dos níveis de testosterona no corpo, geralmente empreendida por homens que se dedicam ao culto da aparência, leva a uma série de resultados polêmicos. O aumento da massa muscular costuma ser o efeito do hormônio mais desejado pelos homens. Em decorrência disso, tornou-se comum, em academias de ginástica, o uso de uma versão sintética da testosterona. O hormônio pode ser absorvido em pílulas – que causam enormes danos ao fígado – ou por meio de injeções, que não conseguem manter um nível constante de testosterona. As injeções acrescentam, de uma só vez, grandes quantidades do hormônio no sangue e produzem efeitos físicos e psicológicos que vão desde uma explosão de energia e agressividade, nos primeiros dias, até fadiga e depressão, em um momento seguinte.
Além dos efeitos sobre o corpo, suspeita-se que a testosterona seja um importante fator para definir a personalidade. A questão é definir até onde vai essa influência. Para o sociólogo Richard Udry, da Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, ela pode definir as diferenças fundamentais de comportamento entre homens e mulheres. “Em qualquer primata, as diferentes quantidades de testosterona a que machos e fêmeas estão submetidos no segundo trimestre de gravidez modificam a estrutura do cérebro e o comportamento”, afirma Richard. “Posteriormente, a socialização apenas estimula ou reprime as predisposições biológicas.”
De qualquer modo, há evidências que sugerem a influência do hormônio no comportamento. “Pessoas com alto grau de testosterona são freqüentemente mais agressivas e aceitam correr mais riscos”, diz o sociólogo americano Alan Booth, da Pennsylvania State University. Autor de um estudo com veteranos da Guerra do Vietnã, Alan constatou que os soldados com maiores níveis de testosterona se engajaram com mais freqüência em situações como enfrentar o fogo inimigo, encontrar minas, desafiar emboscadas, ver combatentes mortos ou matar adversários. Da mesma forma, James Dabbs analisou mais de 700 presidiários e constatou que os que haviam cometido crimes violentos e que violavam com freqüência as regras da prisão tinham mais testosterona que os que nunca haviam ameaçado, ferido ou assassinado alguém. James repetiu essa pesquisa em um presídio feminino e os resultados foram os mesmos, o que confirmou a influência do hormônio em ambos os sexos.
Além da agressividade, a testosterona estimula também a libido. Estudos feitos por Richard Udry com adolescentes mostraram que um alto nível do hormônio aumenta a predisposição a ter relações sexuais. O mesmo acontece com adultos. Só que, entre esses, o maior nível de testosterona costuma acarretar problemas no casamento. James Dabbs e Alan Booth analisaram as relações amorosas de 4.462 militares entre 30 e 40 anos e perceberam que os homens com testosterona alta eram menos propensos a se casar e se divorciavam mais facilmente. Além disso, os campeões da testosterona tinham o dobro de chances de ter relações extraconjugais do que os que apresentavam níveis mais baixos. Pois é, risco e agressividade podem não combinar com a vida conjugal.
Muitas outras características estão associadas à testosterona. “Pessoas com níveis mais altos desse hormônio são mais autoconfiantes, rudes, inquietas e sorriem menos”, afirma James. “Elas também são mais propensas ao consumo de álcool e ao fumo, mas ainda não sabemos por quê”, diz Alan. Além dessas, a lista de peculiaridades que a testosterona pode produzir – mas que ainda não foram provadas definitivamente – inclui uma maior noção espacial, uma menor preocupação com o conforto, a tendência a tomar decisões mais rapidamente, com um foco mais estreito e bem definido. (Leia-se: características essencialmente masculinas.) Em contrapartida, acredita-se que pessoas com níveis mais baixos de testosterona são mais amigáveis, mais comunicativas, atentas aos detalhes e capazes de exercer diversas atividades simultaneamente. (Leia-se: características essencialmente femininas.) 
A origem da relação entre níveis de testosterona e padrões de comportamento, para os pesquisadores, pode estar no nosso passado de caçadores. “Milhares de anos de evolução devem ter selecionado os homens com maior nível de testosterona”, afirma James. Força, resistência, concentração e libido eram muito importantes em um ambiente em que era preciso caçar animais selvagens e disputar as mulheres para conseguir procriar. Tudo isso no braço, na cara e na vontade. Para as mulheres, no entanto, a habilidade manual e o cuidado com os filhos eram mais importantes do que a força física. Ou seja: a testosterona só traria prejuízos.
Até hoje, situações de alta competição e de dominação são freqüentemente associadas à testosterona. Alan e James pesquisaram atletas de esportes tão diferentes entre si quanto o boxe e o xadrez e perceberam que a quantidade do hormônio no sangue aumenta antes do jogo. Quando a partida termina, o nível de testosterona continua alto nos vitoriosos e diminui drasticamente nos derrotados. Esse efeito talvez explique as temporadas de sucesso ou de fracasso de alguns times. E aplica-se também aos torcedores mais exaltados. James coletou amostras de testosterona da saliva de torcedores brasileiros e italianos antes e depois da final da Copa de 1994. Depois que Roberto Baggio perdeu o pênalti e sagrou involuntariamente o Brasil tetracampeão mundial, os torcedores brasileiros aumentaram o nível de testosterona em até 100%, enquanto os italianos apresentaram uma queda brusca no nível do hormônio.
O fato de a testosterona ampliar a chance de sucesso em um ambiente competitivo não significa necessariamente que o hormônio favoreça o sucesso profissional. Muitos desempregados têm um índice altíssimo de testosterona. Acredita-se que o hormônio deixe as pessoas mais impulsivas e com menos paciência para estudar durante horas ou ficar o dia inteiro sentadas atrás de uma mesa. É preciso lembrar que a competição e os fatores de sucesso há dezenas de milhares de anos, quando desconfia-se que começou a relação entre a testosterona e os padrões de comportamento humano, não eram os mesmos de hoje.
Ao longo da nossa evolução, os problemas relacionados à testosterona parecem ter limitado a sua quantidade no nosso corpo. “Níveis muito altos de testosterona estimulariam o sujeito a correr tantos riscos que ele acabaria morrendo antes de procriar”, diz James. Outros estudos indicam que indivíduos castrados – que quase não produzem testosterona – têm a sua expectativa de vida aumentada em 13,6 anos.
Fonte: Revista Superinteressante (adaptação de "De que são feitos os homens?")

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