Um Crowdfunding Que Deu Certo



Crowdfunding financia projeto científico pela primeira vez no Brasil.  O sequenciamento do genoma do mexilhão dourado (foto) recebeu os R$ 40 mil necessários para sua complementação financeira através de contribuições na internet.


O primeiro projeto científico a ter suporte por crowdfunding (uma espécie de "vaquinha virtual") no Brasil alcançou seu objetivo no dia 11 de junho de 2013. Depois de 60 dias de campanha, o sequenciamento do genoma do mexilhão dourado recebeu os R$ 40 mil necessários para sua complementação financeira, arrecadada através do site Catarse.
Nativo da China, o mexilhão dourado invadiu terras sulamericanas em 1991 pela água de lastro de navios. Desde então, vem se espalhando pelo continente, principalmente nas bacias do Paraná e do Paraguai, já que tem incrível capacidade de reprodução e não possui predadores naturais. Infestando leitos de rios, cascos de árvores e até tubulações e turbinas de hidrelétricas, a praga ameaça chegar à Amazônia, comprometendo a biodiversidade de uma dos mais vastos ecossistemas do mundo.
O estudo procura transcrever o DNA do animal para que seja possível controlar os danos causados por ele. Esse é o projeto de doutorado de Marcela Uliano, estudante do Laboratório de Biologia Molecular da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Além da orientação do professor Mauro Rebelo, ela conta com ajuda de Francisco Prosdocimi, seu co-orientador em bioinformática. O video divulgado pela equipe no site explica perfeitamente a amplitude do problema.

Com o fim da arrecadação, o clima é de festa. A estudante comemora o sucesso do crowdfunding e diz que a importância da arrecadação tem um duplo sentido, além do dinheiro. “É da característica do Mauro ser um divulgador do trabalho científico e o crowdfunding foi uma forma legal de conseguir essa verba e, ao mesmo tempo, espalhar o conhecimento desse problema ambiental”, disse.
Mas quem achava que os R$ 40 mil eram mais que suficientes, Marcela conta que o dinheiro servirá apenas para aliviar as contas do projeto. “É difícil estimar quantos porcento esse dinheiro representa, pois, na conta, entra até o laboratório bem equipado que temos, mas é um apoio financeiro enorme para vários gastos que a pesquisa demanda”, diz ela. “Com essa ajuda é possível até montar um grupo maior para aumentar a velocidade e precisão do estudo”.
Nos próximos meses, Marcela conta que serão iniciados os trabalhos de extração do DNA e sequenciamento do genoma do mexilhão dourado, tarefa para alguns anos. “Queremos manter todo o processo online. Por isso, criamos uma espécie de protocolo no site The Open Mytilus Consortium, onde os colaboradores e interessados vão poder saber sobre o andamento de tudo, inclusive o batismo das enzimas e genes descobertos, que é o prêmio que oferecemos para quem doou”.Sobre a sensação de ter um projeto financiado pela população, Marcela afirma ter sido um dos pontos mais gratificantes do estudo. “A gente já esperava que pessoas mais próximas se mobilizassem para doar, mas vimos que afetou uma parcela gigante de pessoas. Vimos que o brasileiro gosta de ciência, mesmo não sendo um especialista”, disse. “Tem um monte de doutorando que tem projetos que o governo não pode financiar, o legal é que esse financiamento colaborativo pode ser uma saída para eles também”, afirma a estudante.
Saiba como funciona o crowdfunding:

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