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O protagonista do filme ‘O curioso caso de Benjamin Button’, ao invés de envelhecer com o passar do tempo, rejuvenesce. Em estudo recente, camundongos com superexpressão da proteína BubR1 tiveram alguns sinais de velhice atenuados, conforme nos relata o colunista Stevens Rehen da CH On-Line

O cientista Stevens Rehen, especialista em células-tronco e professor do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro,  publica na última sexta-feira de cada mês na Ciência Hoje On-Line a coluna Bioconexões, na qual aborda  novidades na área de neurociências e terapias celulares. Em sua mais recente publicação, o colunista comemora o sucesso de um experimento com uma proteína ligada à divisão celular, responsável por prolongar a vida de camundongos e protege-los contra o câncer.

Um estudo publicado por cientistas dos Estados Unidos na revista Nature Cell Biology sugere que uma proteína originalmente associada à divisão celular pode estender a expectativa de vida em mamíferos. 
Stevens Rehen explica como isto é possível. " Durante a divisão de uma célula, o material genético compactado sob a forma de cromossomos precisa ser duplicado e distribuído em partes iguais entre as duas células que estão sendo geradas", explica o colunista.
"Para que a distribuição dos cromossomos ocorra sem erros, os mamíferos desenvolveram um mecanismo de vigilância, chamado de ‘checkpoint mitótico’. BubR1 é um dos componentes desse ponto de checagem e ajuda a orquestrar a separação dos cromossomos durante a mitose.
Mutações em BubR1 foram associadas a uma doença rara, conhecida como síndrome da aneuploidia variada em mosaico e cujos pacientes possuem células com números alterados de cromossomos (fenômeno conhecido como aneuploidia; daí o nome da doença), predisposição à formação de tumores e várias características associadas ao envelhecimento, incluindo expectativa de vida curta, crescimento reduzido, atraso mental, catarata etc", esclarece Rehen.
"Camundongos mutantes que produzem baixas quantidades dessa proteína também possuem células com diferentes números de cromossomos, curta expectativa de vida, retardo no crescimento, catarata, sarcopenia (perda de massa e força muscular), perda de gordura subcutânea e outras características associadas ao envelhecimento.
Essas informações, aliadas ao fato de que a produção de BubR1 diminui com a idade, levantou a hipótese de que a ausência de BubR1 poderia contribuir para o envelhecimento biológico.
Para testar essa hipótese, a equipe de Jan M. van Deursen nos Estados Unidos criou camundongos capazes de produzir grandes quantidades de BubR1. Essa superexpressão de BubR1 não causou alterações nos pontos de checagem do ciclo celular. Não foi observado, por exemplo, aumento da taxa de aneuploidia espontânea nesses animais", explica o cientista.
"Por outro lado, quando os animais eram expostos a agentes capazes de induzir cânceres de pulmão e pele, apenas 33% deles desenvolveram tumores. No grupo controle (animais com níveis normais de BubR1), todos, ou seja 100%, ficaram doentes.
Em fibroblastos cultivados em laboratório, os pesquisadores demonstraram que a superexpressão de BubR1 diminui a geração forçada de células aneuploides. Nos animais, demonstraram que taxas de aneuploidia associadas ao envelhecimento também estavam reduzidas. Aneuploidia é a marca registrada de cânceres. Há evidências científicas de que essa condição favorece o desenvolvimento tumoral.
Esses resultados sugerem que a proteção antitumoral por níveis elevados de BubR1 estaria relacionada à preservação da integridade genômica e à manutenção de mecanismos de checagem mitótico mais eficazes.
De volta aos camundongos, aqueles que produziam grandes quantidades de BubR1, desenvolveram menos tumores e, consistente com essa redução, apresentaram aumento da longevidade", conclui Stevens Rehen.

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