Uma Biodiversidade Atropelada



Se de um lado a caça de animais silvestres no Brasil é proibida, faltam projetos adequados de rodovias que os resguardem. Na foto: Lobo-guará encontrado morto na rodovia que liga Uberlândia a Patrocínio em MG ( crédito: Mover: Movimento Verde de Paracatu)

Segundo uma matéria que saiu no jornal O Globo em 27 de novembro de 2012, a principal causa direta de mortalidade de animais vertebrados no Brasil é o atropelamento. Especialistas do projeto Rodofauna ( um grupo que monitora as estradas que passam perto de cinco unidades de conservação do Distrito Federal) observaram 2.324 animais mortos em 25.170 quilômetros percorridos no período de abril de 2010 a setembro de 2012, sendo a maioria (86,4%) animais silvestres.
A cada minuto, 28 animais são atropelados nas estradas brasileiras, levando-se em conta o tamanho da malha viária do país.Carros, motos e caminhões retiram a vida de 14,7 milhões de animais por ano (40,8 mil a cada dia), 
Mais do que criar as bases estatísticas da mortandade de animais atropelados, os pesquisadores do Rodofauna estão mapeando os pontos de maior incidência do problema. As informações vão municiar o relatório que está em fase de conclusão. 
A enorme quantidade de bichos mortos em rodovias mostra o tamanho do desafio dos pesquisadores que pretendem diminuir os atropelamentos. O impacto ambiental já começa com a própria construção da estrada, que se transforma em uma barreira impedindo ou dificultando a circulação dos animais. Quanto mais preservada for a área cortada pela via, mais grave é o problema.
Por outro lado, a contínua supressão de florestas — que abrigam os animais silvestres —, seja por conta do crescimento das cidades ou por qualquer outra atividade, aumenta a necessidade de circulação deles não apenas para buscar alimentos, mas também para encontrar abrigo e mesmo parceiros. Quando, no meio do caminho dos bichos, há rodovias, o risco de acidentes é alto.
Para entender melhor o impacto das rodovias e propor alternativas que diminuam a intensidade dele, o biólogo e analista ambiental do Ibama, Mozart Lauxen escreveu o “Guia de Procedimentos para a Mitigação dos Impactos de Rodovias sobre a Fauna” (Conecte). O trabalho é resultado de monografia apresentada no Curso de Especialização em Diversidade e Conservação da Fauna do Departamento de Zoologia da UFRGS. O trabalho foi feito em parceria com o também biólogo e ambientalista Andreas Kindel, professor associado da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e membro do Conselho Consultivo do Parque Estadual de Itapeva (Rio Grande do Sul).
O estudo está publicado na internet e oferece uma síntese de outros estudos acadêmicos que já se debruçaram sobre a ecologia das estradas, além de abordar aspectos relacionados às etapas do licenciamento ambiental. Por exemplo, quando há a decisão de construir uma rodovia, é necessário identificar e mensurar seu impacto ambiental. Se a estrada causa a fragmentação de uma área de floresta, é importante analisar a possibilidade de traçados alternativos, que desviem as vias de regiões ambientalmente importantes.
Outro caminho é a mitigação do dano, que pode ser feita lançado-se mão de uma série de ferramentas, como a exigência de construção de estruturas de passagem de animais, tanto por baixo da pista como por cima.
Além dos animais silvestres, os bichos domesticados e de criação também são alvos. Muitas vezes o impacto é tão violento que causa a morte do próprio motorista.



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