Um Darwin Diferente

O naturalista Charles Darwin (1809-1882), notável por suas idéias revolucionárias sobre as origens das espécies era um personagem marcado por conflitos e dramas pessoais como todo mundo. Na foto: Paul Bettany interpretando Darwin no cinema no filme Criação (2010)

O naturalista Charles Darwin  (1809-1882) combinava perfeitamente o espírito do explorador com o do cientista. Antes de mais nada era um apaixonado pela Natureza, pela sua criatividade e versatilidade, e, como bom cientista, unia a essa paixão, a confiança na capacidade humana de decifrar os mistérios do mundo através da razão. Com um apetite insaciável pelo conhecimento, saiu pelo mundo em um navio da famosa Marinha Britânica, em busca de aventuras  e pistas que o ajudassem a desvendar  as variações que existiam nas diversas formações geológicas da Terra e na diversidade entre as espécies, bem como nas possíveis relações entre as duas.

Darwin viveu em uma época  em que a explicação mais aceita para a variação das espécies era dada pela Bíblia, segundo a qual Deus  criou o mundo em sete dias com todos os animais e plantas viventes até hoje. Se alguém questionasse essa explicação, por exemplo, perguntando por que não existiam mais dinossauros  (cujos  fósseis, é claro, já eram conhecidos bem antes do século  XIX), a resposta seria que esses monstros  eram muitos grandes para  caber na Arca de Noé e, portanto, acabaram afogados no Dilúvio. Darwin não se convencia muito com esse tipo de explicação. Ele achava que a Bíblia não deveria ser usada como texto científico e que deveria ser possível entender a mecânica do mundo através de seu estudo meticuloso, a partir da coleta de dados.
Esse Darwin que se notabilizou por seus estudos sobre a origem da espécies a a partir da seleção natural todo mundo conhece. Eu quero apresentar um Darwin diferente, um Darwin com mais características humanas, alguém como você e eu, cheios de qualidades e defeitos. Talvez quem leu a biografia de Darwin conheça um pouco desse lado do naturalista, embora a história tenha lhe reservado os louros de suas descobertas ou as críticas por suas teorias a respeito da origem do homem.
Para começar, quando jovem Charles Darwin tinha fama de gastador. Em cartas enviadas às suas irmãs Susan e Catherine quando estava no Chile entre 1834-35,  Darwin se revela um gastador compulsivo. Diz ele: " Tudo isso é muito brilhante, mas agora vem a parte desanimadora do projeto. Aquele fantasma horrendo, o dinheiro(...) Em suma , descontei uma letra cambial de 100 libras, isso logo depois de ter gasto 60 libras na travessia dos Andes (...) Creio sinceramente que eu seria capaz de gastar dinheiro até na Lua (...) não consigo, ou melhor, nunca resisti à Tentação."
Ainda bem que ele era filho do afortunado Dr. Robert  Waring  Darwin, um médico milionário que trabalhava com especulações financeiras, tais como ações  de minas de ouro da América do Sul.  Gastar 180 libras  em 4 meses , em 1834, em um país  pobre como o Chile naquela época, não era nada fácil. Isso representava quase o salário anual  de um professor da Universidade de Cambridge. Essa extravagância declarada não era novidade  no jovem Darwin. Anos antes, em maio de 1831, recém-formado, recebera do pai 200 libras. Elas deveriam ser suficientes para quitar a s suas dívidas em Cambridge, onde estudara, e deveria sobrar um pouco para gastar em algo verdadeiramente ligado aos estudos universitários. Para "amolecer" o coração e o bolso do severo pai, o jovem Charles não hesitava em pedir ajuda das irmãs , de quem sempre se manteve muito próximo desde que se tornara órfão de mãe aos 8 anos de idade.
Darwin deixou sua cidade com 16 anos, para estudar Medicina na Universidade de Edinburgh. Porém, o pai de Charles o obrigou a mudar de caminho, e ir para a Universidade de Cambridge, para tornar-se clérigo da Igreja Anglicana. Ainda jovem, Darwin se interessou por geologia e voltou seus estudos para a geologia da América do Sul, decidindo explorar a Cordilheira dos Andes. As despesas não seriam pequenas ( mais tarde estimadas em 500 libras), mas Darwin deveria mostrar que, dessa vez a causa da gastança era verdadeiramente nobre. Ele cavaria fundo a ignorância humana e descobriria coisas jamais vistas. "Uma galinha ciscando o chão sabe mais da geologia do galinheiro do que nós sabemos daquilo que está sob os nossos pés", costumava dizer Darwin, já exibindo seu conhecimento  teórico e prático sobre o assunto.
Em 1831, aos 22 anos e recém-formado, Darwin foi convidado a participar de uma expedição patrocinada pelo governo inglês até os trópicos, como acompanhante do comandante do navio HMS Beagle. A missão do Beagle estava revestida de importância geopolítica. Darwin não embarcaria com um carregamento de batatas ou carvão mineral. Ele estava acompanhado de nada menos do que 22 cronômetros H-4 de precisão inaudita, garantida por preciosos rubis à prova de desgaste, guardados por uma tripulação armada, disposta a proteger à bala os mais modernos artefatos da tecnologia da época. A expedição  consertaria os erros dos mapas anteriores que tinham dizimado tripulações inteiras de navios e determinaria com precisão, interesses geopolíticos e militares, como as Ilhas Malvinas, que, conquistadas à força  por aquela época, passaram a se chamar Falklands.
A decisão de navegar estava ligada a vários fatores, entre eles a vida amorosa de Charles Darwin. Sua amiga de infância, Fanny Owen (1808-1891), estava disponível para um relacionamento mais sério. Seria possível adiá-lo para depois da viagem? Mas esse capítulo sobre a vida amorosa de Darwin eu conto depois em uma outra postagem.
Para saber mais: 
Moore, J e A. Desmond, 2000. Darwin- a vida de um evolucionista atormentado. Geração Editorial. 800 págs.
Bizzo, N., 2008. Darwin- do telhado das Américas à teoria da evolução. Odysseus Editora. 229 págs.
Charles Darwin e o método científico. Arquivado em www.profjabiorritmo.blogspot.com. Acesso em 06/09/2012
Veja como ficou esta postagem na página do site evolucionismo

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