Mentiras e Verdades Sobre as Cobras

Biólogo fala sobre os problemas que os mitos geram tanto para os humanos quanto para as cobras, sobre a confusão com os nomes comuns das serpentes nas diferentes regiões do Brasil e sobre campanhas para mudar a má reputação desses répteis. (foto: pico-de-jaca)

As serpentes são protagonistas de vários mitos e crendices, que lhes atribuem os comportamentos mais bizarros. O biólogo Paulo Sérgio Bernarde, da Universidade Federal do Acre (Ufac), doutor em zoologia pela Universidade Estadual Paulista, comenta algumas dessas crenças em seus livros e esclarece a verdade por trás delas. Autor do livro “Serpentes Peçonhentas e Acidentes Ofídicos no Acre”, que retrata as espécies de cobras venenosas do Estado e também os casos de ofidismo (picadas de cobra), Paulo Bernarde, que nasceu em Guararapes (SP) há 40 anos e mora no Acre há quase sete anos, orienta alunos dos cursos de Ciências Biológicas e do Mestrado em Ecologia e Manejo de Recursos Naturais da Ufac em Rio Branco.
Dividido em 15 capítulos, com 112 fotografias coloridas, o livro apresenta informações sobre a classificação e biologia das serpentes, dentro de outros aspectos sobre a história natural desses animais.
Em relação aos acidentes ofídicos (picadas de cobras), é apresentado os diferentes tipos de venenos e os sintomas nas vítimas, que é o principal critério para que profissionais de saúde possam reconhecer qual é o gênero causador e tipo de soro a ser ministrado no paciente.
Outro aspecto abordado são os cuidados em campo para prevenção de acidentes ofídicos e os primeiros socorros, denotando a importância da obra para os profissionais que trabalham em florestas e na área rural (biólogos, agrônomos, engenheiros florestais, analistas ambientais, militares etc) e também para as pessoas que vivem na Amazônia.
No livro também são apresentadas lendas e crendices sobre as cobras, o que desmistifica algumas condutas inadequadas de primeiros socorros que podem até agravar o quadro da vítima.
Na Amazônia muitas vezes as vítimas estão distantes do atendimento médico nos hospitais além de existir por parte dos profissionais de saúde certa dificuldade no reconhecimento da espécie de serpente causadora, fatores estes que, associados a crendices populares, podem agravar o quadro da vítima e contribuírem para o surgimento de complicações e sequelas.    Ele cita, entre os principais mitos, o das sucuris gigantes, com mais de 15 metros de comprimento, e o da suposta habilidade de hipnose das cobras, entre outras histórias. 
Em entrevista ao estúdio CH do Instituto Ciência Hoje, Bernarde diz que são conhecidas atualmente 375 espécies de cobras no Brasil, sendo que 55 destas são peçonhentas, ou seja, podem causar envenenamento em humanos e animais. Esse cenário é bastante diferente do encontrado na Austrália, por exemplo, onde 80% das espécies de serpentes são venenosas. No Brasil ocorrem anualmente menos de 150 casos fatais de envenenamento por cobras, número bem menor em relação às estatísticas de homicídios, com mais de 40 mil casos, ou seja, existe uma maior probabilidade de sermos mortos por outro ser humano do que por uma cobra.
As cobras apresentam seu papel na natureza como predadoras de roedores, sapos, lagartos, outras cobras etc, e também servem de alimento para gaviões, jaguatiricas, cachorros-do-mato, seriema etc. Para a humanidade, o veneno das cobras tem um potencial e tanto para descoberta de medicamentos. Do veneno da jararaca (Bothropoides jararaca) foi descoberto o anti-hipertensivo Captopril e o da Cascavel (Crotalus durissus) uma proteína (“Enpak”) com propriedades analgésicas que pode vir a ser 600 vezes mais poderoso que o da morfina. Portanto, as cobras também são responsáveis por salvarem a vida de milhares de pessoas, o que denota a importância de se saber mais sobre a vida desses animais que estão presentes tanto nos campos e florestas como também por vezes nas cidades.
No Alto Juruá existe uma crendice que a pessoa picada de cobra deve ficar sem beber água, pensando que se beber pode contribuir para que o veneno se espalhe. Essa é uma crença perigosa, uma vez que na maioria das vezes a vítima pode morrer de insuficiência renal, e beber muita água auxilia a evitar isso.
Mas, como se prevenir de picada de cobras? Entre algumas dicas, além de muita atenção nos campos e florestas, sempre que for andar nas florestas e nos campos, andar calçado. Cerca de 80% das picadas acontecem do joelho para o pé, sendo 50% na região do pé. O uso de botinas ou botas preveniria melhor do que um tênis. Usar luvas de couro ao remover lenhas e demais atividades rurais. Não colocar as mãos dentro de buracos do solo ou de árvores. Olhar para o chão quando estiver andando em trilhas em matas. Procurar não andar fora das trilhas em matas. Ao atravessar troncos caídos, olhar sobre ou atrás dele. Evitar andar a noite, pois é o horário de maior atividade das serpentes peçonhentas. Sempre utilizar lanternas quando for caminhar durante a noite nos campos e florestas. Ao sentar-se no chão, olhar primeiro em volta. Ao encontrar uma cobra, avise o resto da turma sobre onde ela se encontra e procure desviar-se dela.
Em caso de picada de cobra a vítima deve ter em mente que deve imediatamente procurar um hospital, pois o soro anti-ofídico aplicado por um médico em um ambiente hospitalar é o tratamento adequado para reverter o envenenamento. Existem várias condutas que a vítima não deve realizar, como fazer torniquete ou garrote, perfurações no local da picada, dentre outras que são inadequadas e podem até agravar o quadro da pessoa.
Saiba mais sobre veneno de cobras aqui no Biorritmo

Comentários

  1. Interessados em adquirir o livro "Serpentes Peçonhentas e Acidentes Ofídicos no Acre" podem fazer o pedido pelo meu Site Herpetofauna:
    www.herpetofauna.com.br
    Pelo e-mail SnakeBernarde@hotmail.com pode ser feita a compra.
    Valor: 45,00 Reais (Frete incluso!).
    O livro apresenta 112 páginas, ricamente ilustrado com 112 fotografias coloridas e aborda a diversidade, classificação e biologia das 18 espécies de cobras peçonhentas do Acre e também de algumas não peçonhentas mais comuns, além de apresentar informações sobre os envenenamentos, sintomas, tratamento, primeiros socorros, prevenção e lendas.
    Obrigado pela divulgação Prof. José Antonio Dias

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    1. Nós é que ficamos gratos pela riqueza de conhecimentos que recebemos através de seus livros, prof. Bernade. Ou melhor: a ciência agradece. Obrigado por prestigiar o blog Biorritmo. Um abraço.

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  2. Boa noite tenho uma duvida e gostaria que fosse esclarecida , Quando se mata uma cobra por pauladas ou se passar por cima da cabeça da mesma ela pode soltar veneno ou não ? obrigada !

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    1. Boa noite. Como sabemos as cobras não "espirram veneno", elas injetam a sua peçonha em suas presas com a finalidade de facilitar a captura ou como mecanismo de defesa. O ideal seria não matá-las, pois não representam tanta ameaça assim como supomos.

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