Sáude Primal: Nascidos Para Amar

Pesquisador que defende a humanização classifica como 'hormônio do amor' a ocitocina liberada durante o parto normal. E afirma "A nossa capacidade de amar é determinada no momento do nascimento."

" A saúde de cada indivíduo é formada durante a sua vida intrauterina, mas sua capacidade de amar é determinada no momento do nascimento" . Foi com essa afirmativa, e questionando qual o futuro de uma sociedade na qual a maioria dos bebês nasce por cesárea, que o fundador do Primal Health Research Centre, em Londres, Michel Odent, conduziu o Centro de Estudos da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz na última semana. Odent, que foi pioneiro nos anos setenta da tese da humanização do parto, destacou sua importância e classificou como 'hormônio do amor' a ocitocina liberada durante o parto normal por sua capacidade de aproximar mãe e filho. 
No Brasil, as cesáreas ocorrem com cerca de 90% das mulheres que usam o Sistema Único de Saúde e que vários aspectos presentes em nossa sociedade podem ser influenciados pela alta prevalência desse procedimento.
De acordo com o palestrante, a pesquisa em saúde primal pode ser apresentada como um ramo da epidemiologia que inclui todos os estudos que exploram as correlações entre tudo aquilo que acontece no início da vida humana e no decorrer do seu desenvolvimento. Para isso, entretanto, é necessário definir o que é o início da vida. " Em nosso vocabulário, o início da vida é o período primal, ou seja, aquele que inclui a vida fetal, o período do nascimento e o primeiro ano de idade do bebê" , explicou. 
Michel Odent também disse que a sociedade necessita de outras considerações e deve treinar suas mentes para o pensamento de longo prazo. " Todo profissional envolvido no parto, por motivos óbvios, só pensa em curto prazo. Quando um bebê nasce, a parteira não pensa nos riscos que ele pode ter ao longo de sua vida. Logo, precisamos de critérios para pensarmos nessas situações e modificarmos essa forma de pensar. O banco de dados traz uma variedade de estudos públicos e muitas publicações científicas, que, por sua vez, trazem uma visão geral do assunto" .
Para Odent, o momento do nascimento é determinante para toda a vida do ser humano. Traços da personalidade, autismo, comportamento autodestrutivo, risco de suicídio na adolescência e criminalidade juvenil estão relacionados à capacidade de amar e se comunicar dos indivíduos, segundo ele. Por outro lado, as patologias relacionadas ao metabolismo humano, como diabetes, obesidade e prevalência de doenças coronarianas, por exemplo, estão relacionadas à vida intrauterina do indivíduo. " Me parece que a nossa saúde é formada na nossa vida intrauterina. Isso já está claro para nós hoje em dia. Por outro lado, a nossa capacidade de amar é determinada durante o período do nascimento".
Ainda de acordo com o pesquisador, quando a capacidade de amar está relacionada aos humanos sua dimensão é maior. " Nós pertencemos a diversas culturas. Quando a mulher está grávida e sabe que está esperando o bebê, ela pode antecipar seu comportamento materno. Quando há alguma perturbação no nascimento de um mamífero não humano, por exemplo, os efeitos são logo detectados para cada indivíduo. A mãe perde o interesse pelo bebê. Pesquisas demonstram que as mães macacas que dão à luz por cesárea não cuidam dos bebês" .
Já no final de sua palestra, Odent disse que o contexto atual de interação entre os fatores genéticos e o ambiente pode levar a uma nova classificação de doenças. Além disso, também se referiu às transformações que as mudanças da sociedade podem trazer ao nosso corpo. " O número de mulheres que dão à luz somente com ajuda de seu próprio sistema ocitocínico está se tornando insignificante. A vida de uma mulher moderna muitas vezes a leva a diminuir o aleitamento. Uma função que se torna cada vez menos útil vai se enfraquecendo de geração em geração. Não posso imaginar uma pergunta mais importante para aqueles interessados no futuro da humanidade do que esta: qual será a evolução do sistema ocitocínico humano?" .

Fonte: FIOCRUZ

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