Fiocruz Traça Perfil de Verme Pouco Conhecido


Pesquisadoras da Fiocruz traçaram o perfil proteômico de Angiostrongylus costaricensis, helminto causador da inflamação intestinal aguda conhecida como angiostrongilíase abdominal


Um estudo desenvolvido pela Fundação Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) conseguiu descrever o perfil proteômico de parasitas adultos de Angiostrongylus costaricensis, helminto causador de uma inflamação intestinal aguda conhecida como angiostrongilíase abdominal. Os resultados recentes representam o primeiro passo na busca de proteínas candidatas para ensaios de diagnóstico e tratamento desta infecção. A pesquisa foi publicada no Journal of Proteomics.
Até o momento, poucas análises se concentraram sobre o causador da angiostrongilíase abdominal. A doença, transmitida por moluscos terrestres, como o caramujo africano, tem difícil diagnóstico já que, por possuir uma sintomatologia pouco específica, pode ser confundida com outras helmintoses. Devido à ausência de ferramentas de diagnóstico, a angiostrongilíase abdominal é considerada uma doença sub-diagnosticada. O trabalho, realizado em parceria pelos Laboratórios de Patologia e de Toxinologia do IOC, descreveu as proteínas mais abundantes expressas por estes parasitas, identificando parcialmente as proteínas antigênicas - potenciais candidatas a alvos para novas alternativas de diagnóstico.
De acordo com uma das autoras do estudo, Ana Gisele C. Neves Ferreira, pesquisadora do Laboratório de Toxinologia, a falta de conhecimento e, consequentemente, a dificuldade de diagnóstico da doença são alguns dos desafios encontrados. " A angiostrongilíase abdominal é pouco conhecida pelos médicos. A sintomatologia inespecífica e a dificuldade de diagnóstico contribuem para que a doença seja subdiagnosticada" , destaca.
Para as pesquisadora, outro complicador é a falta de tratamento específico. " Os anti-helmínticos utilizados para o tratamento da angiostrongilíase abdominal acabam sendo os mesmos normalmente empregados no tratamento de outras helmintoses" , diz. Infelizmente, ao invés de matar o parasita, a medicação tem efeito irritante sobre o A. costaricensis, fazendo com que ele migre das artérias mesentéricas, onde costuma se alojar, para outros órgãos. Isto pode resultar em problemas mais sérios, como, por exemplo, tromboses. Assim, o próprio tratamento com anti-helmínticos, por ser ineficaz contra o A. costarisensis, pode levar ao agravamento do quadro clínico.
Este estudo é tema da tese de doutorado da bióloga Karina Mastropasqua Rebello, que será defendida no Programa de Pós-graduação em Biologia Celular e Molecular do IOC em 2012. " Como as informações sobre esse parasita são escassas, o primeiro passo foi descrever o perfil de expressão proteica global dos vermes adultos, com objetivo de compreender melhor sua fisiologia. Demos ênfase às proteínas imunorreativas, ou seja, aquelas reconhecidas pelo sistema imune do animal infectado pelo parasita. Isso, obviamente, possui razões práticas, porque são essas proteínas que poderão ser eventualmente utilizadas em um kit de diagnóstico" , explicou a bióloga.
A doutoranda acrescenta que o estudo partiu da necropsia de roedores infectados, a fim de retirar os vermes adultos que ficam localizados no intestino. " Separamos os vermes machos e fêmeas, que possuem a morfologia bem distinta. A partir daí, os parasitas isolados foram processados para extração de proteínas" . Posteriormente, foi realizada a dosagem de proteínas dos extratos dos dois gêneros, seguida de fracionamento das proteínas por eletroforese bidimensional, revelação por 'immunoblotting' e identificação por espectrometria de massas.
De acordo com Ana Gisele, o trabalho pioneiro permitiu descrever parcialmente a composição do extrato de proteínas do parasita, além de compreender quais elementos desse extrato podem ser aproveitados na construção de uma ferramenta para diagnóstico. " Com o estudo, foi possível perceber que não há uma correspondência linear entre a abundância da proteína e sua capacidade antigênica. Em outras palavras: as proteínas mais imunorreativas se mostraram pouco abundantes. Em contrapartida, durante os testes grande parte das proteínas mais expressas não foi reconhecida pelos anticorpos dos animais infectados pelo parasita. Muitos trabalhos descritos na literatura utilizam extratos proteicos não purificados como antígenos, o que leva a uma frequência muito alta de reações cruzadas. Nós conseguimos refinar esta estratégia, trabalhando com proteínas de fato antigênicas presentes na mistura complexa de proteínas do A. costaricensis" , revela Karina.
As próximas etapas do estudo incluem caracterizar o perfil (imuno)proteômico em todo ciclo de desenvolvimento do Angiostrongylus costaricensis, utilizando metodologias proteômicas complementares mais sensíveis, baseadas em nanocromatografia líquida e espectrometria de massas de alta resolução.
" O trabalho foi realizado com verme adulto, que é a fase mais abundante, em que o parasita é maior e há mais facilidade de se conseguir massa parasitária. O desafio atual é caracterizar o perfil proteômico em todo ciclo de desenvolvimento do Angiostrongylus costaricensis, com objetivo de verificar também o padrão de expressão proteica nas fases larvais" , revelou Karina.

Fonte: Isaude.net

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