Pesquisando a Alergia

Pesquisadores do Rio de Janeiro buscam novos medicamentos de combate às alergias diferentes das drogas anti-histamínicas existentes no mercado 

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 30% da população mundial sofrem com algum tipo de alergia.Nas grandes aglomerações urbanas , os sintomas são agravados pela poluição, afetando principalmente as crianças. Mas os horizontes para o controle desse mal estão se ampliando. Um novo medicamento desenvolvido por pesquisadores da Universidade do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf)- ainda em fase de testes, em ratos, mas que já gerou um pedido de patente no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) - pode ser uma alternativa mais inteligente para o tratamento de alérgicos.
Diferente das tradicionais drogas anti-histamínicas, que só atuam depois da liberação no organismo da histamina, isto é, das substâncias que desencadeiam as reações alérgicas, o novo medicamento vai atuar em uma fase anterior a esse processo, evitando que os sintomas se manifestem. A idéia surgiu após um longo período de pesquisas com proteínas alergênicas extraídas das sementes de mamona (Ricinus communis), em andamento há 15 anos no Laboratório de Química e Função de Proteínas e Peptídeos (LQFPP), do Centro de Biociências e Biotecnologia da Uenf. O projeto, sob a coordenação da professora Olga Machado, vem sendo financiado pela FAPERJ, por meio de diversos programas.
O primeiro passo da equipe foi identificar a estrutura da molécula responsável pelo desencadeamento da alergia, que nada mais é do que uma reação imunológica do organismo quando em contato com substâncias estranhas, conhecidas como alérgenos (antígenos). Para isso, eles identificaram a seqüência  de aminoácidos de várias proteínas alergênicas contidas na torta de mamona (nome da massa de resíduos resultantes do processo de extração de óleo da semente, usada largamente como matéria-prima para a produção de biocombustíveis), além da seqüência de aminoácidos de seus epitopos. Os epitopos são as regiões da proteína que se ligam às imunoglobulinas , formando pontes, especialmente com o principal anticorpo envolvido nas reações alérgicas: a imunoglobulina E (IgE).
Depois de desvendarem essa estrutura primária, os pesquisadores observaram que alguns aminoácidos, como o ácido glutâmico, apareciam constantemente nos epitopos. Intrigados, eles resolveram investigar as suas interações com a IgE e confirmaram a hipótese de que esses aminoácidos eram fundamentais para consolidar a ligação entre os epitopos ea IgE. "Para a proteína alergênica se associar e disparar o processo de alergia, certos aminoácidos dos epitopos têm se ligar às IgEs das células, formando uma ponte entre moléculas de IgE. Após esta interação, ocorre mudanças na célula, levando à liberação de histamina, ou seja, a substância que provoca os sintomas da alergia", explica Olga.
Pensando nesse mecanismo, a equipe da Uenf vem desenvolvendo um medicamento capaz de tomar o lugar dessas ligações antes que os epitopos das substâncias causadora da alergia possam ocupá-la, evitando, assim o surgimento dos sintomas indesejáveis. "A droga atua como um bloqueador de IgE", resume a pesquisadora. "Começamos a desenvolver o medicamento em cultura de células de ratos e camundongos em 2005, e hoje estamos testando em animais vivos, com resultados preliminares imediatos e bastante satisfatórios", conta. A realização de testes em seres humanos, que seria a próxima etapa, ainda depende da aprovação do Conselho de Ética. A equipe está aberta a propostas de empresas farmacêuticas para o fechamento de parcerias e desenvolvimento final do remédio.
A boa notícia é que o medicamento deve apresentar resultados não  só para as pessoas alérgicas  à mamona,  mas também para quem tem outros tipos  de alergia. Isso ocorre por conta das respostas cruzadas entre alérgenos. as proteínas alergênicas da mamona estão presentes também no pólen, que, ao ser disperso no ar, pode causar sensibilização mesmo em que nunca teve contato com a planta. "Indivíduos sensibilizados por alérgenos da mamona tornam-se propensos a desenvolver também sensibilidade a componentes alergênicos presentes em diversos alimentos, tais como camarão, peixe, glúten, trigo, soja, amendoim e milho", afirma Olga. "Por isso, esperamos que o medicamento seja eficaz contra outros tipos de alergia, causadas por alérgenos de outras fontes, além da mamona."

Fonte: Revista Rio Pesquisa da FAPERJ

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