Em Busca do tão Falado Ensino de Qualidade

Segundo muitos especialistas,o caminho para um ensino de qualidade está na junção de 3 fatores: práticas de sala de aula, formação dos professores e a administração escolar.

Talvez não haja uma nação no mundo onde se fale tanto em educação como o Brasil. Todos os dias vemos comentários na mídia, declarações de políticos apontando a educação como prioridade, empresários pregando mais atenção à formação, especialistas com planos mirabolantes. No entanto, os resultados são, fora algumas exceções que merecem nota, absolutamente desalentadores. Esse paradoxo aparente pode ser explicado de maneira relativamente simples: fala-se muito para dar a impressão de que os problemas educacionais brasileiros saõ profundamente complexos e compreensíveis apenas para uma minoria de especialistas que cobram consultorias a preço de ouro. Nossos problemas educacionais são, porém, básicos e pedem uma combinação de políticas de longo prazo com investimentos maciços, ou seja, perseverança e dinheiro.
Não é necessária muita investigação para entender que o sucesso do processo educacional tem, como condição necessária a existência de um corpo de professores altamente qualificado e motivado. Para termos tal corpo, faz-se necessário que a profissão de professor seja atrativa aos olhos dos nossos jovens mais brilhantes.  Eles devem se sentir motivados a abraçar a carreira, eles devem identificá-la como uma carreira capaz de garantir um sólido reconhecimento social. Por que um ótimo estudante de Física assumiria uma carreira em que os salários são algo próximo do ridículo, as condições de trabalho são precárias e a carga horária não dá espaço para a pesquisa e reciclagem? Tem gente que gosta de falar que o motiva professores não é necessariamente o salário, mas “a grandeza da profissão”, “o prazer de ensinar” e outras pérolas do gênero. Alguém deveria sugerir uma lei para limitar o cinismo desses arautos do altruísmo alheio.
Como melhorar significativamente a qualidade da educação de nossas escolas? O que fazer para que o  Brasil evolua com  a magnitude e a rapidez necessárias? Segundo o colunista da Revista Veja  Gustavo Ioschpe o caminho está na junção de 3 fatores: práticas de sala de aula, formação dos professores e a administração escolar.
Como uma das melhorias das práticas a serem aplicadas em sala de aula, Gustavo aposta na otimização do tempo de aula. Segundo ele o tempo de contato entre aluno e professor é muito valioso e escasso, e deve ser usado apenas para atividades educacionais. Tudo aquilo que pode ser feito fora da sala de aula deve ser feito fora da sala de aula. O professor perde muito tempo fazendo chamada, dando recados, fazendo advertências, sem levar no atraso do próprio professor que precisa se deslocar de uma escola para outra a fim de melhorar seus vencimentos. Os exercícios em sala de aula também são contraproducentes, pois subtraem tempo de aula para algo que o aluno pode fazer em casa. O ideal seria que o professor utilizasse o tempo de aula para corrigir, comentar e explicar os exercícios feitos em casa pelo aluno do que simplesmente observá-los resolverem as questões em sala.
Bom material didático também ajuda. Um bom livro didático, por exemplo, serve para organizar e estruturar a práticada sala de aula. precisamos de um verdadeiro currículo mínimo nacional obrigatório capaz de organizar os conteúdos didáticos de todo o processo escolar. Qualquer professor sabe que , devido à ausência de tal currículo, nossos alunos são obrigados, muitas vezes, a enfrentar uma profunda desarticulação entre as matérias dadas em diversos anos, repetindo de maneira irracional conteúdos e subexplorando processos cumulativos.
Alguns costumam dizer que a imposição de um currículo mínimo nacional obrigatório seria um atentado contra a diversidade das perspectivas de ensino, a multiplicidade dos métodos de aprendizado e as diferenças regionais deste país continental. Talvez eles queiram, com isso, esconder o fato de que, por mais diversos que sejamos, os alunos devem aprender os mesmos conteúdos. As regras de geometria analítica, as leis de Newton e as conjugações verbais são as mesmas em São Paulo e  em Alagoas. O discurso da multiplicidade e da diversidade é apenas uma cortina de fumaça contra a incapacidade de realmente ensinar. Podemos nunca chegar a um acordo completo a respeito do que devemos ensinar aos nossos alunos. Mas temos um acordo mínimo.
Dar a infraestrutura básica (quadro-negro, cadeira e carteira para cada aluno, prédio protegido das intempéries do clima, energia elétrica) melhora muito o desempenho dos alunos. Mas depois disso, as adições físicas não tem efeito, inclusive computadores, diz Gustavo Ioschpe. Depois do básico, o resto é por conta do professor, afirma o colunista.
Segundo Vladimir  Safatle, professor  de filosofia da USP, por mais que tentemos inventar soluções paliativas e manobras diversionistas, não haverá melhora efetiva de nosso ensino sem estes três pilares: valorização da carreira de professor, avaliação contínua da qualidade por meio de inspetorias e escola em tempo integral. O fato é que não devemos nos acomodar ao discurso fatalista de que nã há como resolver nossos problemas elementares de educação. Esperamos daqueles que nos governa não a resignação e o pedido de paciência infinita diante dos problemas, mas a criatividade política  que sabe encontrar saídas novas.

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