Por Que Divulgar Ciência?

O astrônomo e divulgador Carl Sagan (1934-1996) no seriado Cosmos, famoso na década de 80 . Até que ponto a exposição à divulgação científica ajuda a atrair jovens curiosos e talentosos para carreiras em ciência? 

Se estivermos convencidos de que é possível divulgar ciência, a pergunta seguinte é: por que divulgá-la? Aí cabem muitas respostas, mas algumas podem ser destacadas. Primeiro, a sociedade sabidamente demonstra grande interesse pelo assunto, em especial por temas médicos. Há, então, uma plateia cativa. Em segundo lugar, os cientistas, sobretudo aqueles baseados em instituições públicas, deveriam se sentir compelidos a explicar como o dinheiro do contribuinte é aplicado. Além disso, a sociedade mostra o desejo claro de participar da discussão geral, principalmente de assuntos polêmicos que afetarão os cidadãos de maneira direta, como células-tronco, genoma humano, clonagem, evolução etc.
Seria interessante e relevante realizar um levantamento para avaliar até que ponto a exposição à divulgação científica ajudou a atrair jovens curiosos e talentosos para carreiras em ciência. Uma e outra biografia de celebridades científicas apontam o livro Os caçadores de micróbios, do microbiólogo Paul de Kruif (1890-1971), como a inspiração definitiva para a escolha da carreira, mas de modo geral não conhecemos bem o papel motivador da divulgação científica como forjadora de cientistas.Entretanto, para que esse debate exista, as pessoas devem estar devidamente informadas. Com a vantagem de que pessoas bem informadas podem se precaver da pseudociência e separar as crenças folclóricas, mezinhas variadas e promessas de juventude eterna do fato comprovado experimentalmente. Há muitos outros aspectos ligados à divulgação científica, embora a maioria seja de difícil mensuração.
Por outro lado, a divulgação da ciência é certamente o nutriente vital da ficção científica. Quantos livros e filmes de ficção científica transitam entre a realidade e a imaginação de seus autores? Filmes que ativaram o interesse da sociedade, como O caçador de androides, Contato, Parque Jurássico, Gattaca e tantos outros, seguramente dependeram da leitura atenta de textos que transformaram a informação dura em algo palatável e excitante.
Nesse ponto, são inevitáveis as interconexões. Será que a escassez de ficção científica brasileira, contraposta à plenitude do cenário místico, deve-se a um ambiente de ciência tímido, acompanhado por uma divulgação científica apenas incipiente?

Por Franklin Rumjanek do Instituto de Bioquímica Médica, Universidade Federal do Rio de Janeiro
Texto originalmente publicado na CH 274 (setembro/2010).

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