Detetives do DNA

Assim como os detetives dos seriados policiais americanos, biólogos peritos analisam o DNA para encontrar pessoas desaparecidas ou resolver casos de paternidade discutida (Foto: CSI investigação criminal)

Longe de estar apenas na ficção retratada nos seriados policiais americanos, que apresentam peritos decifrando mortes misteriosas com o auxílio tecnológico de bancos  de dados de DNA, o uso da biologia molecular - um dos ramos atuais da genética forense - para elucidar crimes  não é novidade em outros países. Já no Estado do Rio de Janeiro, as aplicações  mais comuns dos exames de DNA priorizam a identificação dos desaparecidos, investigação de paternidade, além do levantamento do perfil genético das populações. No Rio, biólogos se dedicam as análises do DNA humano em duas instituições: o Instituto de Pesquisa e Perícias em Genética Forense da Polícia Civil (IPPGF) e o Laboratório de Diagnósticos por DNA  da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
A investigação de casos de desaparecimentos - que chegaram a 401 em todo o estado apenas em maio de 2009, de acordo com o Instituto de Segurança Pública - ganhou um aliado na Polícia Civil do estado do Rio de Janeiro: o banco de dados de DNA do IPPGF.  A proposta é do projeto "Localizar", cujo banco de dados genéticos foi elaborado para armazenar o DNA de mais de 400 amostras biológicas, retiradas de despojos de diversas vítimas fatais  necropsiadas pelo Instituto Médico Legal (IML), no período de 2003 ao início de 2006, e enterradas sem identificação.
O primeiro momento da pesquisa é voltado para a extração do material genético. No laboratório do IPPGF os peritos pulverizam as amostras de ossadas para posterior extração do material genético. Cerca de 290 amostras dos indivíduos não identificados no IML já foram processadas, a maioria perfis genéticos de indivíduos do sexo masculino. Para cada não identificado, a pesquisa deve coletar, em média, DNA de dois parentes relacionados. O ideal é fazer o exame com pai e mãe. Em segundo plano, seriam com os avós e filhos e, em último caso, com os irmãos. Ao todo, seriam pelo menos 800 familiares para 400 amostras.
A técnica de pesquisa envolve o uso de marcadores moleculares, desenvolvidos para traçar e localizar regiões do DNA associadas a determinadas características genéticas individuais. São utilizados como marcadores as regiões STRs autossômicos do DNA e os marcadores de linhagem: DNA mitocondrial e STRs do cromossomo Y. Lembrando que o DNA mitocondrial identifica a linhagem matrilínea, ou seja, os traços genéticos da mãe presentes no material biológico pesquisado. É possível relacionar àquele não identificado não somente à mãe, mas também a familiares que partilhem a mesma linhagem matrilínea, como avó materna e irmãos filhos da mesma mãe.
Por outro lado, a análise do cromossomo Y identifica indivíduos que partilham a mesma linhagem patrilínea. Os marcadores de linhagem são utilizados como uma forma inicial de relacionar geneticamente indivíduos, enquanto que por meio da análise dos STRs autossômicos é gerado o perfil genético dos indivíduos, que será acrescentado no banco de dados para busca de vínculo genético.
No Laboratório de Diagnósticos por DNA da Uerj, outro centro de referência carioca na área, a principal demanda é a aplicação mais popular da genética forense: os testes de paternidade. Criado em 1996 para atender a população com exames gratuitos de DNA, o laboratório vem realizando investigações genéticas a partir de convênios com o Ministério Público e o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Além de realizar perícias  em busca da comprovação da paternidade, muitas com o objetivo de permitir à Justiça a imediata determinação do pagamento de pensão alimentícia, o laboratório dedica-se a investigações criminais post-mortem e à localização de desaparecidos.
Outro projeto em curso é o mapeamento da formação gênica do brasileiro, observando traços do DNA do branco, do negro e do índio presentes na população atual, herança do processo de colonização. Uma dos resultados dessa pesquisa revelou que o perfil genético do homem carioca, em geral, está mais próximo do colonizador português, mesmo entre indivíduos afrodescendentes.

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